terça-feira, 21 de janeiro de 2020

So família NEPOTISMO

DOCUMENTOS MOSTRAM QUE MULHER DE SECRETÁRIO DE CULTURA SERIA REMUNERADA EM PROJETO DE R$ 3,5 MILHÕES
Contrato assinado entre Juliana Galdino e empresa que seria contratada pela Funarte fala em 'valor de cachê'

No documento, Alvim usa, claro, seu nome de batismo — Roberto Rego Pinheiro. "Roberto Alvim" é seu nome artístico.

O secretário afirmou que Juliana trabalharia de graça, como voluntária, como diretora artística do Projeto de Revitalização da Rede Nacional de Teatros, em Brasília. O trabalho consistiria na montagem da peça Os demônios, a ser apresentada no Teatro Plínio Marcos, mas depois estendida a outras cidades.

Alvim se contradisse ao explicar por que há a menção a "valor de cachê" no contrato.

Num primeiro momento, ele afirmou que se tratava do pagamento aos artistas que trabalhariam no espetáculo.

Depois, disse que os artistas seriam pagos pela própria Flô Entretenimento, quando apresentassem notas fiscais como pessoa jurídica.


No último sábado, o colunista Ancelmo Gois, do jornal O Globo, mostrou que Alvim expediu um convite formal à mulher, que o aceitou.

Neste convite, também obtido pela coluna, está explícito que Juliana deveria indicar uma produtora para poder receber:

"Para a sua contratação você deverá indicar uma produtora artística com larga experiência, a qual emitirá notas fiscais para o recebimento dos desembolsos". 


Em entrevista à coluna, Alvim afirmou que a escolha da mulher ocorreu devido à "carreira consagrada" de Juliana.

O processo para a indicação dela vinha de algumas semanas antes.

Em 19 de agosto, uma ata da Funarte, também assinada por Alvim, afirmava que ele mesmo indicou a mulher.

Segundo o projeto, planejado por ele para promover um "combate cultural" contra a "ideologia de esquerda altamente nociva", Juliana Galdino seria contratada até setembro de 2020.

Em 16 de setembro, Alvim também assinou outro documento obtido pela coluna, uma Solicitação de empenho — documento que pede que o governo garanta que o valor seja pago.

Nele, Alvim pede a garantia de pagamento de R$ 688 mil, a primeira de quatro parcelas que seriam pagas à Flô Entretenimento, do total de R$ 3,5 milhões.


Esses e outros documentos a que a coluna teve acesso rebatem outro ponto do discurso de Alvim: que ele estava apenas cogitando contratar a empresa e sua mulher sem licitação.

Indagado pela coluna por que ele assinou todas as peças, se tudo era só uma cogitação, Alvim afirmou que decidiu recuar quando ouviu de sua consultoria jurídica que a maneira pela qual estava tentando contratar a empresa e, ao mesmo tempo, sua mulher — a inexigibilidade de licitação — era indevida.

Não foi isso o que afirmou, também em entrevista à coluna, sua assessoria jurídica, Dênia Magalhães.

Segundo ela, a equipe jurídica da Funarte nem sequer chegou a analisar o processo.

"Antes mesmo que o jurídico analisasse, o Roberto retirou o processo, pois entendeu que não deveria fazê-lo".

O assunto se tornou público no dia 27 de setembro, quando a revista Veja mostrou que Alvim tentara contratar a mulher. Ele negou, alegando que havia desistido da iniciativa.

Entretanto, outro documento, de 30 de setembro, portanto três dias após a revista publicar a reportagem, mostra a Coordenação de Teatro formalizando o pedido de contratação de Juliana Galdino.

À coluna, Alvim afirmou que poderia ter escolhido outra pessoa, que também tivesse uma "carreira consagrada" como Juliana, mas não explicou por que preferiu ela.

Alvim enviou, como prova de que Juliana seria voluntária, um orçamento do projeto, em que consta como zero o valor que lhe seria pago. Só agora, dois meses após o caso vir à tona, o secretário mencionou este documento.

Entretanto, não soube afirmar em que dia o orçamento foi produzido. Sua assessoria jurídica disse não dispor da data exata, mas afirmou que o orçamento foi anexado "no final de setembro".

A data específica permitiria saber se o orçamento foi acrescentado ao processo de contratação antes ou depois de Alvim ser procurado pela revista Veja.

A Flô Entretenimento enfatizou que o projeto não saiu do papel e que a empresa não recebeu nenhum repasse de qualquer quantia.

"Era apenas uma ideia que não teve seguimento", dizia a nota da produtora, que não explicou por que, se era "uma ideia", um dos seus sócios assinou o contrato com Juliana Galdino. Ou ainda por que ela enviou todos os documentos para ser contratada pela Funarte.

(Por Guilherme Amado e Eduardo Barretto)

Nenhum comentário:

Postar um comentário